
Pesquisa foi publicada na revista científica Science. Entre os erros do governo, o estudo cita a promoção da cloroquina como tratamento e a falta de coordenação nacional entre os diferentes níveis do governo.
“No Brasil, a resposta federal foi uma combinação perigosa de inação e erros, incluindo a promoção da cloroquina como tratamento, apesar da falta de evidências científicas”, dizem os pesquisadores.
A pesquisa aponta que o fracasso em combater o vírus vai facilitar o surgimento de novas variantes, isolar ainda mais o Brasil como uma ameaça à saúde global e “levar a uma crise humanitária completamente evitável”.
A pesquisadora Márcia Castro, professora da escola de políticas públicas da Universidade Harvard, que participou do estudo, falou sobre como a falta de alinhamento político prejudicou o combate da pandemia no Brasil.
“Fica muito claro que em um contexto de extrema desigualdade social é absolutamente fundamental que a ação seja coordenada. E no caso do Brasil, seguindo o pacto da saúde que foi estabelecido com o SUS. A ação precisa ser coordenada de tal forma que municípios possam implementar um plano nacional, com apoio do estado e do governo federal” – Márcia Castro, pesquisadora.
O estudo cita cinco motivos para a propagação do vírus nos estados brasileiros:
1) O Brasil é grande e desigual, com disparidades em quantidade e qualidade de recursos de saúde (por exemplo, leitos hospitalares, médicos) e renda.
2) Uma densa rede urbana que conecta e influencia os municípios por meio de transporte, serviços e negócios não foi totalmente interrompida durante picos de casos ou mortes.
3) O alinhamento político entre governadores e presidente teve um papel no momento e na intensidade das medidas de distanciamento e a polarização politizou a pandemia com consequências para a adesão às ações de controle.
4) O SARS-CoV-2 estava circulando sem detecção no Brasil por mais de um mês, resultado da falta de vigilância genômica bem estruturada.
5) As cidades impuseram e relaxaram medidas em diferentes momentos, com base em critérios distintos, facilitando a propagação do vírus.
Os pesquisadores fazem um apelo e pedem ações de medidas para tentar frear o vírus. “Sem contenção imediata, medidas coordenadas de vigilância epidemiológica e genômica e um esforço para vacinar o maior número de pessoas o mais rápido possível, a propagação da P.1 provavelmente vai emular o padrão mostrado aqui [no estudo], levando a uma perda de vidas inimaginável”.
Comunicação/Cal/Pública/2021
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