Search
Close this search box.

Mensagem aos deputados

NÃO ao confisco dos salários dos servidores públicos!

Senhores deputados,

Como servidor da carreira fiscal do Estado de São Paulo, manifesto minha indignação com a proposta de confisco de até metade dos salários dos trabalhadores do serviço público, materializada nas Emendas Aditivas 4 e 5, apresentadas pelo partido Novo à PEC 10/2020.

Não custa lembrar aos senhores, já que a bancada do Novo parece ter se esquecido, que servidores públicos também são trabalhadores. E que, com seus salários, assim como todos os trabalhadores brasileiros, consomem produtos e serviços, geram empregos, enfim, movimentam a economia.

O próprio Ministro Paulo Guedes, em live transmitida há alguns dias, manifestou-se pelo descabimento de tal medida, que retiraria poder de compra de parcela significativa das famílias brasileiras, com a consequente redução do consumo e aumento do desemprego, em especial de trabalhadores e prestadores de serviços domésticos.

Pergunto à nobre bancada do Novo: como um “privilegiado” que ganha R$ 6.101,08 pagará suas contas com um confisco de 26% do seu salário? Qual o conceito de privilégio para a bancada do Novo?

Outra questão que coloco: o que há de “novo” em:

  • culpar os servidores públicos pelas mazelas do país e colocá-los na linha de tiro de medidas demagógicas e preconceituosas? Para o Novo, parece que só há meritocracia na iniciativa privada. Um magistrado que estuda por anos, passa em uma seleção rigorosa e tem responsabilidade sobre as vidas e o patrimônio dos cidadãos não merece ganhar bem? Um auditor fiscal, que combate a sonegação, zelando por um ambiente concorrencial justo, e gera milhares de vezes a sua remuneração em impostos, também não merece um salário proporcional à sua responsabilidade e relevância para a sociedade?
  • recorrer à malandragens legislativas, como o parágrafo único do artigo 117, para “ficar bem na foto” e excluir do confisco os servidores supostamente envolvidos com o combate à pandemia? Por acaso, a bancada do Novo não entendeu ainda que todo o serviço público deste país, de alguma forma, está “diretamente envolvido”? Auditores buscando recursos, juízes tomando decisões importantes sobre quarentena, atendimento médico e tantas outras questões, promotores zelando pelos direitos dos cidadãos. Com seus salários confiscados, terão que focar na própria sobrevivência.
  • fazer de conta que não sabe que as maiores economias do planeta (lembrem-se que somos a nona) estão agindo no sentido oposto, de manter a renda dos trabalhadores para que o consumo e o emprego não se retraiam ainda mais? A União Europeia suspendeu os rígidos limites de gastos dos países-membros. A Alemanha, segundo notícia da Deutsche Welle, lançou um pacote de ajuda em 23/03 que soma 750 bilhões de euros. “Encerrar a crise vem em primeiro lugar. Ao final de tudo isso, veremos em que situação estará nosso orçamento”, disse a chanceler federal Angela Merkel.
  • não trazer para a mesa propostas que atinjam o verdadeiro “andar de cima” da sociedade brasileira, como estas:

1 – Instituição, por lei complementar, do Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), previsto no artigo 153, inciso VII da Constituição Federal de 1988 e jamais criado. Os brasileiros “super-ricos” somam aproximadamente 71 mil pessoas (0,05% da população adulta), dos quais cerca de 50 mil recebem dividendos e não pagam qualquer imposto sobre esses rendimentos;

2 – Revogação imediata da isenção do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) sobre lucros ou dividendos distribuídos ou remetidos ao exterior. Essa isenção é uma aberração no cenário internacional: dos 34 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas a Estônia possui um regime de isenção total de lucros e dividendos como o Brasil. Projeto de lei nesse sentido (PL 3061/2019), de autoria do Senador Flávio Arns, está parado no Senado;

3 – Criação de uma alíquota adicional e temporária da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para as instituições financeiras, como a que vigorou de 2016 até o início de 2019. O lucro líquido dos 4 maiores bancos do Brasil com ações em Bolsa cresceu 18% em 2019, na comparação com 2018. Os lucros acumulados somaram R$ 81,5 bilhões. Segundo levantamento da Economatica, foi o maior lucro consolidado nominal (sem considerar a inflação) já registrado pelos grandes bancos.

Segundo a ONU, o Brasil é um “paraíso tributário para super-ricos”:

https://nacoesunidas.org/brasil-e-paraiso-tributario-para-super-ricos-diz-estudo-de-centro-da-onu/

Ser “novo” de verdade passa por corrigir essas injustiças agora e para sempre, e não pelo confisco do salário dos que mantêm o serviço público brasileiro funcionando neste momento em que nunca precisamos tanto da ação do Estado – que, em um país tão desigual e carente, não pode ser “mínimo”.

Senhores deputados de todos os partidos, não ao confisco do salário dos trabalhadores do setor público! Os brasileiros clamam por justiça fiscal!

Comunicação/Cal/Pública/2020

Compartilhe essa notícia
Últimas notícias da categoria:
Criação do INPSU – Instituto Nacional do Regime Próprio de Previdência Social da União
28 de setembro de 2023
Senado vai contra STF e aprova marco temporal para demarcações de terras indígenas
28 de setembro de 2023
É Plano de Carreira ou greve! Servidores do meio ambiente aprovam paralisação geral dia 28/9
26 de setembro de 2023
Filie-se

Traga sua entidade para a Pública

Faça parte da Central dedicada exclusivamente ao Serviço Público.

A filiação à Pública garante participação em um grupo forte, coeso, que compartilha dos mesmos ideais e objetivos em uma rede de proteção dos serviços públicos e dos servidores brasileiros.

Inscreva-se em nossa

Newsletter

Receba nosso conteúdo informativo diretamente em seu e-mail