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“Não, meu amigo”- por Marcelo Zenkner

Não, meu amigo… você não tem do direito de esvaziar a prateleira do supermercado porque chegou primeiro e levar para sua casa todo o estoque de álcool em gel. Muito menos realizar uma compra de suprimentos superdimensionada para abastecer sua casa por longos meses. Aquilo que não estará sendo utilizado na sua casa corresponde exatamente àquilo que estará faltando na casa de um outro brasileiro.

Não, meu amigo… você não tem agora o direito ir onde você quiser. Não é porque você não faz parte do grupo de risco da doença ou porque você não está sentindo qualquer sintoma que você pode circular livremente. Você é um vetor em potencial da doença e o vírus pode permanecer incubado no seu corpo por até 14 dias.

Não, meu amigo… o que importa não é apenas você e sua família. “Economizar o dinheiro da diarista” também não pode ser motivo de sua satisfação. Você vive em um País com 46 milhões de pessoas que trabalham de modo absolutamente informal e que dependem do esforço do dia-a-dia para sobreviver. Se a fome e o desespero se abaterem sobre esses irmãos brasileiros, saiba que você e sua família sofrerão imediatamente as consequências.

Não, meu amigo… você não pode neste momento postar nas redes sociais sua mesa farta e suas bebidas caras, pois o momento é de caos e de iminente rompimento do tecido social. Sua insensibilidade em relação à dor e ao sofrimento de tantas pessoas necessitadas pode servir de estopim para uma catarse coletiva.

Não, meu amigo… não acredite que seu mega plano de saúde garante a você um leito de UTI se houver necessidade. Uma pandemia gera o colapso do sistema de saúde pública e, para salvar vidas, o sistema privado também será acionado. Você e seus entes queridos não terão qualquer garantia em hospital nenhum.

Não, meu amigo… não é porque você tem emprego em uma empresa sólida ou é um estável servidor público que seu salário estará garantido no fim do mês. Quando é quebrado um elo da cadeia produtiva ela se rompe por inteiro em todos os setores e, agora, a dúvida não está na identificação de quem vai ganhar e quem vai perder, mas sim de como repartiremos juntos o prejuízo.

O momento é de fazermos uma pausa para reflexão, pensando em todos sem estar com ninguém, entendendo e respeitando o tempo em que vivemos e repensando os caminhos até aqui percorridos pela humanidade.

Há exatos 18 anos, palestinos se refugiaram na Igreja da Natividade, construída sobre a gruta onde os cristãos acreditam que Jesus tenha nascido, a fim de fugir dos disparos do exército israelense, que cercou o local. Ouvido, o ex-líder da Autoridade Palestina e Prêmio Nobel da Paz, Yasser Arafat, falecido em 2004, fez uma única recomendação: “paciência”, palavra composta por outras duas, “paz + ciência”. Nosso momento pede serenidade e inteligência.

Nas palavras de Einstein, “é na crise que aflora o melhor de cada um”. Que sejamos capazes, neste momento, de deixar aflorar nossa solidariedade e nossa capacidade de viver em sociedade de forma civilizada. Juntos sempre seremos mais fortes, mas, neste momento, separados temos que estar mais unidos do que nunca. A espécie humana agradece.

Marcelo Zenkner
Diretor Executivo de Governança e Conformidade da Petrobras

Comunicação/Cal/Pública/2020

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